domingo, 4 de novembro de 2012

Lixo não é lixo

Por Milka Lorena Plaza Carvajal




Quando vi as peças quebradas na minha frente, pensei em tantas coisas que poderia realizar. Queria que fosse algo diferente.
Primeiro pensei num mosaico. Depois, imaginei elas pintadas fazendo parte de outra estrutura.
As telhas quebradas já estavam esmaltadas. Escolhi aquelas cujos cortes traziam plasticidade e entregavam uma ideia ao espectador.
Quem olha sente o diálogo. Existe comunicação. Há um plano de expressão formado por linhas e curvas, saliências e entrâncias do material e um plano de conteúdo. Que depende do momento e do local onde objeto e observador se encontram para realizar um jogo de olhares.


Quando digo que lixo não é lixo e escrevo uma frase nele, estou me apropriando de um objeto e ele passa a ser uma obra.
Assim como Marcel Duchamp se apropriou de um urinol assinando-o e dizendo que isto é uma obra de arte, também podemos dizer que o material reciclável bem aproveitado pode vir a se transformar numa obra.
É um ressurgir da sua vida útil anterior e um vir a fazer parte de outra. Ganhar um novo sentido é preciso, assim como nós humanos quando nos reciclamos através do conhecimento.





As imagens de autoria de Milka Plaza fazem parte da mostra no ateliê Árvore da Felicidade, numa intervenção com detritos que, conforme os enfoques do Povera reanimam os descartes da civilização e da indústria cultural. (J.S.) 



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