terça-feira, 26 de março de 2013

Mundo Bola

por Leandro Serpa


O artista visual Leandro Serpa, com tendências gráficas e pictóricas, pensa o fazer artístico como processo que segue a idéia de projeto, no qual ele define o conceito do que tem em vista que, nesse caso, é mental em todos os aspectos: desde a questão levantada até aos materiais e técnicas de que dispõe para expressar sua visão que envolve a arte como dispositivo esclarecedor acerca da cultura. (J.S.)




Para realização deste procedimento assisto a partidas de futebol ao vivo em TV aberta ou algumas gravações que possuo em VHS e desenho com canetas nanquins e esferográficas a trajetória da bola durante a partida em papeis sulfites, canson a4 e a3. A imagem resultante deste procedimento é um gráfico visual com grande densidade de linhas. Realizo desenhos lance a lance no papel; por exemplo, da batida do tiro de meta ou uma paralisação por falta, impedimento, tiro de canto, lateral, gol etc. ou desenho um tempo do jogo sobre o papel. Estou estudando a possibilidade de desenhar todo o jogo, os dois tempos da partida numa mesma folha de papel.

As discussões pertinentes a este trabalho são no campo da visualidade o desenho no qual, questões como linha e tempo são pertinentes e operantes. No plano da referencia; o futebol; questões como jogo e cultura, esquemas táticos de posicionamento e movimentação, estratégias de jogo e de guerra são estudados e aplicados no trabalho. (Leandro Serpa)


segunda-feira, 25 de março de 2013

Tela e Presença (Livro de Lau Santos)

Divulgação


Livro de Lau Santos, TELA E PRESENÇA, o diálogo do ator com a imagem projetada.



Sobre o livro:

A obra é referência para futuras reflexões sobre o papel do ator diante da câmera. Fruto de uma pesquisa de mestrado no Programa de Pós-graduação em Teatro (PPGT) da Universidade do Estado de Santa Catarina (onde cursa o doutorado), o livro expande de forma crítica os olhares sobre a utilização de câmeras, telas e outros dispositivos audiovisuais.
De acordo com o diretor do Bando de Teatro Olodum e ex-secretário de cultura de Salvador, Marcio Meirelles, “Este trabalho de Lau Santos sobre a presença é motivado exatamente pela ausência – pelo menos escassez – de reflexão sobre um tema dramático nestes tempos de teatro pós-dramático: o diálogo que existe, desde sempre, entre teatro e tecnologia. E é dramático porque talvez dessa reflexão dependa a sobrevivência da eficácia da linguagem”.

Sobre o autor:

Lau Santos é conhecido pela montagem de Tragos, na década de 80, trazendo para o Estado   as experiências da obra de Antonin Artaud. Mais tarde, dirigiu espetáculos e experiências audiovisuais na Europa e no Brasil. Aqui em Santa Catarina, uma de suas experiências cênicas mais marcantes foi a criação e direção de Catarina: uma ópera da ilha (1997). Em 2011, criou e dirigiu o projeto experimental Cine-ao-Vivo. Atualmente, é diretor do NAN (Núcleo de Atores Negros de São José).

Informaçõeshttp://letrascontemporaneas.com.br/ | (48) 3024-6778 | 91559985


Persona (Sérgio Prosdócimo)

Redação do blog




Sérgio Prosdócimo: máscara, quase grito, espanto, perplexidade em cena de Eus e Nós, o ator incorporado no outro, o ator sendo outro dele mesmo.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Anônima equilibrista

Poema sem título de Ivo Pestalozzi



Fotografia de Márcio Henrique Martins


É preciso parar,
E por um segundo,
Conhecer o seu mundo,
E não sonhar.
É preciso voar,
E não perecer.
Ao entardecer,
Pelo seu mar.
E não esquecer
Um porto seguro:
Meu quarto escuro.



terça-feira, 19 de março de 2013

Martinha, Joaquim e o Frei

Redação do blog




Os personagens Martinha, Joaquim, Frei Damasceno e outros não menos importantes surgiram a Jayme Reis, o autor da façanha picaresca (nos sentidos do termo que cada um achar melhor) quando estava em Tiradentes, Minas Gerais, segundo ele por não aguentar “tanto sossego” num lugar que foi palco para o desassossego do dentista inconfidente.

Joaquim, Martinha e garrafa VAT 69

Martinha e Joaquim estavam juntos há anos nos guardados do artista, ela uma boneca Susie ou Barbie (todas as bonecas têm nomes assim) que Jayme Reis transformou em “Carla Perez nos bons tempos”, portanto uma boneca com o atributo necessário para a palavra mais bela do mundo, bunda, segundo Jayme, Susie-Barbie-Carla rebolada, sempre disposta nos contributos a Joaquim e todos os fins desse cara que estava num boneco articulável, destinado ao desenho, mas que só sobrou a cabeça – de caveira, caveirinha. Ambos foram feitos um para o outro, e assim começou a mini-série de fotolog, tudo resolvido com photoshop, e que se transformou em maxi-série, na qual o Frei Damasceno acabou sendo um galego por obra de Martinha, conhecedora dos segredos bucólicos-eróticos da garrava Vat 69.
Martinha, durante a “fotonovela digital” com internautas cultuadores da rosa sexual, continuou o tempo todo sendo a mesma em todas as posições, enquanto Joaquim não, e muito mais o Frei, que acabou se apoderando da mente do artista que disse que não cabe a ele “responder a esse enigma”. De qualquer maneira, é preciso dizer que Jayme, além de Reys, é Damasceno e tem, como um trem, fascínios barrocos, desde El Greco (que dizem que não é mas é barroco), passando por Caravaggio e Aleijadinho, até chegar a Zurbarán, o pintor que deixou Picasso sem cueiro. (J.S.)


segunda-feira, 18 de março de 2013

Novo livro de Péricles Prade


Redação do blog



Os escritores catarinenses, nos últimos anos, têm recebido melhor atenção de editoras do famoso e criticado eixo Rio-São Paulo. O caso mais recente é do poeta, ficcionista e crítico de arte Péricles Prade com a publicação, pela Iluminuras, de Casa de máscaras. O livro é prefaciado pela infrafina palavra de Ronald Augusto, e com orelha constelada de Silveira de Sousa, na qual pontua a intertextualidade de Prade, que é tantas coisas sem deixar de ser ele mesmo. Mas Silveira frisa que não sabe “dizer com exatidão, como é praxe das orelhas de livros, do que se trata este Casa de máscaras”. O que ele sabe é que a poesia de Prade “é de sutil transcendência”, aconselhando o leitor a “guardar este exemplar em lugar especial de sua biblioteca, pois as criações literárias de Péricles Prade parecem ter caído da árvore onde Deus se esconde”. Silveira assim termina seu comentário, aludindo um dos poemas do livro, “Proteção”:

Um anjo,
desses que andam
à solta por aí,
ainda me protege.

O motivo?

Talvez porque
(a exemplo dele)
também caí da árvore
onde Deus se esconde.

Prade é de uma geração de poetas maiores como C. Ronald, Érico Max Müller, Lindolf Bell e Rodrigo de Haro – pentágono cuja força é capaz de se transformar em pêndulo para as gerações posteriores. (J. S.)


A guerra dos esqueletos

Por Jayme Reis





sexta-feira, 15 de março de 2013

Político (05)

Xilogravura de Kelly Kreis Taglieber





quarta-feira, 13 de março de 2013

Político (04)

Xilogravura de Kelly Kreis Taglieber





terça-feira, 12 de março de 2013

A Confissão de Cavaal Butor

Poema de Fernando Karl e Ilustração de Jayro Schmidt


A palavra foi criada por guerreiros e caçadores
e é muito anterior à ciência:
a palavra pesada abafa o pensamento leve.

Em nenhum lugar perguntam por Cavaal Butor, que
– sendo o chacal da infâmia – vocifera que é privilégio dos vivos
escutar chuva nas calhas e a música de câmara:
ver o azul de Matisse e a noite vasta:
tocar a pele do pão e a nudez da banhista em Cassis:
cheirar os clamores da concha e o delírio azul marinho:
sentir na língua o sal e o açúcar.

Cavaal Butor confessa: eu sempre quis, antes de morrer,
ser o aroma do rum na garrafa translúcida,
ser um porto, uma sombra, uma moringa d'água,
ser a tranquila contemplação do objeto natural.

Não quero perdão:
tudo o que eu quero é não ser banquete para larvas,
tudo o que quero é que lavas catequizem larvas,
tudo o que eu quero é, mesmo com asa quebrada,
escapar da cova rasa,
tudo o que eu quero é saber que ardil devo usar
para imaginar o novo corpo
onde se esboça a lucilação diversa e outra música.


quarta-feira, 6 de março de 2013

A visita


Hans Magnus Enzensberger


Fotograma de Asas do desejo, filme de Wim Wenders


Ao suspender o olhar da folha vazia,
estava o anjo no aposento.

Um anjo deveras comum,
da mais baixa hierarquia, suponho.

O senhor certamente não imagina,
disse ele, o quanto és supérfluo.

Uma única dentre quinze mil matizes
da cor azul, disse ele,

tem mais importância no mundo
do que tudo o que o senhor faça ou deixe de fazer,

certamente para não falar do feldspato
e da Grande Nuvem de Magalhães.

Até mesmo o vulgar e imperceptível aguapé
deixaria uma lacuna, o senhor não.

Vi em seus olhos claros que ele esperava
uma discussão, uma longa luta.

Eu não reagi. Esperei,
até que ele desaparecesse, em silêncio.


Tradução de Luis Carlos Mesquita e Jayro Schmidt


segunda-feira, 4 de março de 2013

Anjo da história

Redação do blog (J.S)





Angelus novus, pintura do suíço Paul Klee, que viveu na Alemanha entre as duas Grandes Guerras e foi professor da Bauhaus, instituto de artes fundado pelo arquiteto Walter Gropius. A obra foi adquirida por Walter Benjamin no próprio ateliê do artista. Após a morte de Benjamin, a mesma foi confiada a seu amigo hebraísta Gershon Scholem, doando-a ao Museu de Arte de Jerusalém. Benjamin foi um dos primeiros pensadores contemporâneos a encontrar respostas filosóficas na iconografia, dentre as quais destaca-se a do anjo de Klee.
A angiologia é um dos temas centrais da literatura e das artes visuais do norte europeu desde os barrocos, passando pelos românticos, simbolistas e estendendo-se aos expressionistas. Benjamin integra-se a essa tradição com Teses da História, especificamente com a nona tese, na qual a imagem do anjo de Klee foi transformada numa imagem textual, que ao referenciar o passado e o futuro, situou o agora da história entre dois mundos paralelos e antagônicos numa dialética fantástica ao permear marxismo e messianismo. A força gerativa da nona tese tem sido fonte de muitos estudos, e, praticamente, sintetiza o pensamento benjaminiano:

Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está voltado para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as espalha a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os detritos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o empurra irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o acúmulo de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.