quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O TEMPO PASSA – VIRGINIA WOOLF

Por Jayro Schmidt




Em recente publicação da Autêntica, O tempo passa, temos uma nova tradução de Virginia Woolf realizada por Tomaz Tadeu, também tradutor de Mallarmé, rigoroso e detalhista quanto à natureza dos textos, fornecendo ao leitor precisas e preciosas notas. O tempo passa é a segunda de três partes de Ao farol.

A edição tem um efeito gráfico primoroso graças às ilustrações de Jesper Christian Christiansen, pinturas creditadas apenas no final do livro, no rol de direitos autorais e na ficha técnica, quando também deveria constar na folha de rosto, pois, sem as suas imagens o livro poderia se render ao habitual.

Esses detalhes são importantes, e mais ainda a polpa do livro, a narrativa de Virginia Woolf, que inicia com uma força arrebatadora, mas que, a partir do sétimo capítulo, começa a declinar até o final, no capítulo nono. A desproporção é gritante. Nitidamente se observa que tudo procede de noemas que, depois, a autora reconheceu que não teria como ajustar esta parte com as demais. E assim Virginia Woolf recuou de dificuldades que superou na primeira versão. Outro fator agravou a sua insegurança quanto ao resultado final porque o papa de então, Roger Fry, não se sentiu satisfeito.

Aqui se coloca uma questão crítica, o texto como um ato problemático da escrita que, desta maneira, atinge novas formas e provoca reações. A principal, em relação à literatura de Virginia Woolf, foi a de Arnold Bennett, um escritor limitado, que não chegou a pintar por fora das molduras. Mas o tempo literário passou para ela quando o curinga irlandês Joyce publicou Ulysses.

A torre irlandesa caiu na cabeça de Virginia Woolf, deixando-a sem pai nem mãe, mais sem o Pai, enquanto essa instituição falida é um dos focos que Joyce desfocou, aliás, logo na primeira parte de Ulysses, no segundo episódio, o de Nestor na cena da escola, a história como arte e com a técnica do catecismo:

– Os caminhos do Criador não são os nossos, o senhor Deasy disse. Toda a história humana se conduz a um único fim grandioso, a manifestação de Deus.
Stephen esticou o polegar para a janela, dizendo:
– Isso é Deus.
Urra! Ei! Vhrrvhi!
– O quê? o senhor Deasy perguntou.
– Um grito na rua, Stephen respondeu, dando de ombros.



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